Glórias do Passado: Bené

 

Bené


Benjamim Pereira Sobrinho, conhecido no mundo do futebol pelo diminutivo de Bené, nasceu na cidade de Porto Alegre - capital do Estado brasileiro do Rio Grande do Sul - no dia 28 de Novembro de 1962. Bené ocupava preferencialmente a posição de defesa central, dotado de excelente sentido posicional que compensava alguma lentidão de movimentos. Era detentor de uma estampa física de respeito, que o favorecia no choque e na marcação aos adversários.

Caracterizava-se ainda por um excelente jogo de cabeça, com predicados técnicos assinaláveis para um defesa, pelo que, raramente usava o “chutão” para a frente como estilo de jogo. Alias, bem pelo contrário, era usual em Bené sair a jogar da zona defensiva com a bola controlada, municiando muitas vezes o ataque com passes longos e em profundidade. De resto, em lances de bola parada era o primeiro a avançar para a área adversária pois com a sua estatura causava enormes desequilíbrios. Era ainda um especialista na conversão de grandes penalidades que as executava com apurada técnica e colocação de remate inalcançável na maioria das vezes para os guarda-redes adversários.

Bené jogou com o Rei D. Afonso Henriques ao peito durante 4 temporada consecutivas, fazendo a sua estreia ao serviço do Vitoria Sport Clube na época de 1987/88, já com 25 anos de idade e uma enorme experiência que trazia do futebol brasileiro.
No Brasil, e antes de ingressar no futebol luso, Bené jogou várias épocas no Internacional de Porto Alegre, um dos grandes clubes da sua cidade natal, juntamente com grandes jogadores que vieram a tornar-se famosos não só em Portugal, como no mundo inteiro. Bené formou dupla de centrais, por exemplo, com Aloísio, internacional brasileiro que jogou no FC Barcelona e no FC Porto. Jogou também com Dunga, ex capitão da selecção canarinha e actual seleccionador brasileiro e ainda com o meio campista René Weber que também vestiu a camisola do Vitoria de Guimarães durante alguns anos.
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(Equipa do Internacional de Porto Algre da decada de 80 com Bené em cima, onde se reconhecem ainda René Weber, Aloísio e Dunga, actual selecionador canarinho)
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Alem do Internacional de Porto Alegre, Bené representou ainda no seu país natal o Olaria AC e o América FC, ambos os clubes da cidade do Rio de Janeiro, antes mesmo de se transferir para o futebol português.

Como acima se referiu, Bené chegou a Portugal no defeso da temporada de 1987/88 para reforçar o plantel do Vitoria de Guimarães que na época anterior havia terminado a prova classificado numa brilhante 3ª posição. Chegou pela mão do treinador brasileiro René Simões, juntamente com René Weber, Caio Júnior, João de Deus e Décio António, outros brasileiros que chegaram contemporaneamente com ele a Guimarães, visando a sua contratação, sobretudo, reforçar o lote de centrais que o plantel já incluía como Miguel e Nené que eram os titulares indiscutíveis e o veterano Tozé. Desta forma, o grupo passava a ter mais uma solução de inquestionável valia.
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(Bené com a camisola n.º 3 num jogo frente ao Portimonense SC na época de 1987/88)
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Naturalmente que Bené passou por um necessário período de adaptação à nova realidade futebolística que veio encontrar em Portugal, mas acima de tudo deparou-se com a enorme concorrência de uma dupla centrais que estava rotinada e cheia de sucessos no clube, como era o caso do internacional português Miguel e brasileiro Nené.
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Assim, Bené apenas era utilizado quando o Vitoria apresentava um esquema defensivo assente em 3 defesas centrais, ou quando aqueles 2 titulares estavam lesionados ou a cumprir castigo disciplinar.
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(Plantel do Vitoria na época de 1987/88)
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(Bené em acção na temporada de 1987/88)
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(Plantel do Vitoria na época de 1987/88)
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Foi utilizado em 16 encontros no Campeonato Nacional da 1ª Divisão na temporada de 1987/88, onde apontou um golo na vitória dos vimaranenses sobre o Sp. Espinho por 1-3, no Estádio Comendador Manuel Violas. Curiosamente, neste encontro, Bené apontou não só o primeiro dos três golos com que o Vitoria de Guimarães levou de vencida os espinhenses, mas também foi o autor do golo do Sp. Espinho através de um inadvertido auto-golo.
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Colectivamente, o Vitoria passou por momentos conturbados, fruto de uma série de maus resultados que provocaram diversas mexidas na equipa técnica que liderava o plantel, atingindo por fim, um sofrível 14º lugar no Campeonato Nacional. Atingiu ainda a final da Taça de Portugal, disputada no Estádio do Jamor, onde Bené foi titular, num jogo contra o FC Porto, que os portistas venceram por 1-0.
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(Bené com a camisola do Vitoria na temporada de 1987/88)
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(Equipa do Vitoria na época de 1987/88)
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A participação europeia foi meritória tendo em conta os pergaminhos do clube. O Vitoria atingiu os oitavos de final da Taça Uefa, sendo eliminado pelo Viktovice da Checoslováquia por 5-4 no desempate na marcação das grandes penalidades. Bené, infelizmente, viu o seu nome ligado a esta eliminação da Taça Uefa pois foi ele que não logrou concretizar a grande penalidade que ditou o afastamento da turma vitoriana.

Bené fez a sua estreia em jogos das competições internacionais de clubes com a camisola do Vitoria no dia 16 de Setembro de 1987, frente ao Tatabanyai, no jogo disputado na Hungria, que terminou empatado a um golo. A sua segunda aparição foi, desta feita, na Bélgica, concretamente no jogo da 2ª mão da segunda eliminatória frente aos belgas do Beveren, no Estádio Freethiel. O jogo terminaria com a marcação de grandes penalidades para desempatar a eliminatória que se encontrava empatada a um golo para cada lado. A sorte acabaria por sorrir aos vimaranenses que concretizaram em golo as 5 grandes penalidades convertidas, sendo Bené um dos autores dos tiros certeiros, juntamente com Carvalho, Adão, Miguel e Ademir. Pelos belgas falhou Stalmans e desta forma ficou apurado o Vitoria para a ronda seguinte.
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Já nos jogos referentes aos oitavos de final da Taça Uefa disputados frente aos mineiros do Viktovic, Bené foi titular em ambas as partidas, sendo o protagonista da infelicidade que levou a eliminação do Vitoria da prova conforme acima se referiu.
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(Bené em acção na temporada de 1987/88)
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(Equipa do Vitoria na temporada de 1987/88 na final da Taça de Portugal)
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A temporada de 1988/89 iniciou-se com uma pequena revolução no elenco que compunha o plantel do Vitoria, com a saída e entrada de vários jogadores. Destaque para a transferência do defesa central Miguel do Vitoria para o Sporting CP, abrindo desta forma um espaço maior à utilização de Bené.
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Na verdade, apesar de não ser um titular indiscutível, Bené seria bem mais utilizado nesta época, concretamente em 21 ocasiões, não apontando contudo qualquer golo com a camisola do Vitória ao longo do Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Teve ainda que dividir a titularidade na dupla de centrais não só com o brasileiro Nené, que permanecia no clube, mas também com Germano que havia chegado a Guimarães envolvido na supra mencionada transferência de Miguel para o Sporting CP.
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(Equipa do Vitoria na época de 1988/89)
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(Plantel do Vitoria na temporada de 1987/88)
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(Bené com o troféu da Supertaça Cândido de Oliveira)
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O Vitoria Sport Clube terminaria a prova maior do futebol português classificado na 9ª posição da tabela, desiderato consubstanciado num desempenho mediano ao longo de toda a competição.
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O ponto alto desta época, foi sem duvida a conquista pelo Vitoria da Supertaça Cândido de Oliveira, único troféu a nível nacional do Clube, na qual Bené teve uma participação directa, dado que foi titular na equipa vitoriana que disputou a 2ª mão no Estádio das Antas frente ao FC Porto, na qual realizou, juntamente com os restantes companheiros do sector defensivo, uma excelente exibição, que contribuiu sobremaneira para o nulo final que se registou naquela partida.
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(Plantel do Vitória na época de 1988/89)
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(Plantel do Vitoria na temporada de 1988/89)
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(Bené com a camisola do Vitoria na temporada de 1988/89)
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Nas competições europeias desse ano, Bené teve uma aparição tão fugaz quanto a participação do clube na extinta Taça das Taças. Bené apenas foi utilizado alguns minutos no jogo da 2ª mão disputado no Estádio Municipal de Guimarães, quando entrou a substituir Nené aos 71 minutos do jogo. Todavia, Bené teve nos pés, ou melhor na cabeça, a oportunidade de ouro de carimbar a passagem Vitoria à eliminatória seguinte, quando a 5 minutos do final do jogo, atirou de cabeça a bola ao poste da baliza dos holandeses do Roda. Pouca sorte a dos vimaranenses.
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(Equipa do Vitoria na época de 1988/89)
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(Equipa do Vitoria na época de 1988/89)
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(Bené com o equipamento do Vitoria na temporada de 1988/89)
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A época de 1989/90 seria o ano de afirmação de Bené em Guimarães, onde o treinador brasileiro Paulo Autuori apostou num esquema defensivo desenhado com 3 defesas centrais, onde Germano e Bené se ocupavam da marcação e William, contratado nesta época ao CD Nacional da Madeira, assumia a condição de libero.
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O Vitoria realizou uma brilhante temporada, praticando um futebol reconhecidamente de qualidade e espectacular, classificando-se novamente para as competições internacionais em resultado do 4º lugar alcançado no Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1989/90. Bené alinhou em 26 partidas oficiais e apontou 3 golos ao longo de toda a prova.
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(Plantel do Vitoria na temporada de 1989/90)
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(Bené)
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(Equipa do Vitoria na temporada de 1989/90)
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(Bené)
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Em 1990/91 Bené dava inicio aquela que seria a sua última temporada ao serviço do Vitoria, que colectivamente ficou pautada novamente por um desempenho mediano, não indo a equipa vimaranense além de um 9º lugar na tabela final do Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Conturbados momentos internos foram vividos ao longo desta época, onde se dizia existir uma divisão interna entre jogadores brasileiros, portugueses e africanos. 3 Técnicos passaram por Guimarães nesta temporada – Paulo Autuori, Pedro Rocha e João Alves – fenómeno que também contribuiu para uma época atribulada.
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(Equipa do Vitoria na época de 1990/91)
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(Bené com a camisola do Vitoria na temporada de 1990/91)
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Bené foi titular praticamente a temporada inteira, partilhando a posição de defesa central, ora com Germano ora com Jorge, jogador brasileiro que tinha chegado a Guimarães para substituir William, que havia sido transferido para o SL Benfica. Registou 28 presenças no nacional maior do futebol português sem que tenha concretizado qualquer golo.

Na disputa da Taça Uefa na edição de 1990/91 o Vitoria não ultrapassou a 1ª ronda, acabando eliminado pelo Fenerbahce da Turquia, tendo Bené jogado na partida da 1ª mão em Istambul, no lotado Estádio Inonu, onde o Vitoria saiu copiosamente derrotado por 3-0, hipotecando as esperanças de classificar-se para a eliminatória seguinte.
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(Plantel do Vitoria na epoca de 1990/91)
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(Bené em acção no jogo da Taça Uefa contra o Fenerbahce)
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No final da época de 1990/91, João Alves, que foi o técnico escolhido pela Direcção do Vitoria para permanecer e comandar os destinos da equipa sénior na temporada seguinte, encetou uma remodelação no plantel, a qual incluiu a dispensa dos serviços de Bené apesar de lhe restar ainda mais um ano de contrato com os vimaranenses.
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Abandonando Guimarães, Bené prosseguiu a sua carreira no SCU Torreense, popular clube da cidade de Torres Vedras, que na temporada de 1991/92 estava de regresso ao convívio entre os grandes do futebol português, depois de se ter classificado na 3ª posição do Campeonato Nacional da 2ª Divisão de Honra na temporada anterior.
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(Equipa do SCU Torreense na temporada de 1991/92)
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(Bené em acção pelo SCU Torrense na marcação a Magnusson do SL Benfica)
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Manuel Cajuda era então o técnico principal da equipa de Torres Vedras. Todavia, não foi possível evitar a descida de divisão, terminando a formação SCU Torreense classificada no 16º lugar, fruto essencialmente da sua juventude e inexperiência na alta roda do futebol luso. A chegada tardia de alguns jogadores como foi por exemplo o caso de Bené e Dragolov bem como a composição do plantel integrar 10 estreantes na 1ª Liga não ajudou em nada o sucesso da equipa. Na verdade, se no decorrer da segunda volta da prova o SCU Torreense ainda protagonizou uma assinalável recuperação, a péssima prestação efectuada na primeira metade do campeonato deitou por terra as esperanças dos torreenses em se manter na 1ª Divisão Nacional.
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(Equipa do SCU Torreense na época de 1991/92)
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(Bené com a camisola do SCU Torreense)
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Bené foi contudo um titular indiscutível no SCU Torrense, actuando em 30 jogos na competição, apontando 3 golos no decorrer de toda a prova. O primeiro golo conseguido na competição ocorreu à passagem da 13ª jornada e curiosamente obtido no Estádio Municipal de Guimarães em jogo frente ao seu anterior clube o Vitoria Sport Clube. Na partida que terminaria empatada a 1-1, o SCU Torreense, adiantou-se no marcador ao 53 minutos por intermédio de Bené, igualando o Vitoria, aos 78 minutos, pelo tunisino Ziad. O seu segundo golo foi apontado na 32ª Jornada, frente ao Estoril Praia naquela que seria a goleada da prova, com o SCU Torreense a cilindrar os estorilistas por 8-1. O 3º golo na competição foi obtido já na 33ª Jornada aquando do empate a 1-1, no Estádio Manuel Marques em Torres Vedras, contra o SC Farense.
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(Equipa do SCU Torreense na temporada de 1991/92)
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Consumada a descida de divisão, o SCU Torreense disputou a 2ª Divisão de Honra em 1992/93, naquele que seria o ultimo ano de Bené em Portugal já com 31 anos de idade. Foi utilizado em 22 jogos oficiais e anotou um golo na sua contabilidade pessoal classificando-se a final a equipa de Torres Vedras no 7º lugar da tabela.
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(Bené)
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Bené vem frequentemente ao nosso país, para visitar a cidade de Guimarães onde deixou muitos admiradores e amigos, bem como para acompanhar a carreira do seu filho que até há bem pouco tempo jogava nas camadas jovens do Sporting CP.
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(Foto actual de Bené segurando o troféu da Supertaça Cândido de Oliveira conquistado em 1988)


Autor: Alberto de Castro Abreu

Excelente blog! Parabéns!
A sua investigação minuciosa é realmente muito interessante, tanto nos textos como nas fotos que nos transportam a outras épocas do nosso futebol, com saudade! Parabéns, continue!
 
este blog é uma verdadeira delicia para todos os vitorianos.Por isso deixou um pedido:escreva sobre uam das melhores equipas da nossa história.a que tinha Jeremias,Abreu,Tito,Romeu,Pedrinho,Custódio Pinto,Ramalho,Rodrigues,Torres,Rui Rodrigues e Osvaldinho entre outros.
 
Meus caros Damião e Pedro Silva, obrigado pela palavras.

Relativamente à equipa que o Pedro Silva refere fica a promessa que no futuro a mesma será aqui lembrada como muitas outras grandes equipas do Vitoria.

Continuem a visitar este espaço que muito mais virá de curioso e interessante.

Saudações Vitorianas.
 
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