O que não me contaram!? Aprendizados adquiridos ao abrir uma startup com 20 anos e fechar aos 23.

O que não me contaram!? Aprendizados adquiridos ao abrir uma startup com 20 anos e fechar aos 23.

É isso mesmo galera estou falindo... na verdade ainda não e nem quero! Mas muitas pessoas não tiveram o mesmo caminho, e fecharam seus negócios com rombos nos bolsos dos cofounders, muito por alimentarem um sonho que não estava no time de se tornar realidade.

A cerca de 3 anos atrás eu e mais dois colegas de faculdades resolvemos arriscar e começar a empreender, ainda sem terminar a graduação e com nenhum tostão no bolso. Para agravar a situação, escolhemos uma área que ainda é bastante nova no Brasil, o uso de insetos para alimentação animal e humana. Entretanto, topamos o desafio e fomos atrás do nosso sonho, aprendemos bastante coisa e algumas delas foi realmente na marra e eu gostaria de compartilhar com vocês:

#1 – Me diga com quem tu andas, que eu direi quem tu és!

O que eu quero dizer com esse ditado antigo, que os nossos avós e pais repetiam sempre? Escolha bem as pessoas com que você vai se aliar e fazer negócio! Eu e meus sócios tivemos experiências ruins em fechar parcerias “maravilhosas”, que no começo parecem perfeitas e te colocam lá em cima, mas depois se mostraram grandes dores de cabeça e travaram oportunidades que fariam talvez eu não estar escrevendo um post como este.

#2 Desconfie das grandes empresas

O jogo é o seguinte, todo mundo quer cortas custos e aumentar sua margem, pronto. E por incrível que pareça, para empresas grandes essa tarefa não é tão fácil, por vezes possuem processos muito engessados, o dinheiro para investir em algo diferente do arroz e feijão é caro, e seu contato sempre responde a alguém superior que tem outros interesses. Tivemos experiências com grandes empresas que no começo traziam propostas de investimento, sem expectativa de retorno (What the FUCK) e com “mimos” de viagens, presentes e tudo que o pacote do “Open Innovation” prega. Maaas, nem tudo é como parece, as burocracias internas atrapalham a evolução e execução das ideias, o dinheiro não vem tão fácil e se vier, vêm caro!

Infelizmente eu vejo várias empresas com propostas bacanas de incentivar o empreendedorismo, inovação e startups, mas as experiências que eu tive sempre remete ao jogo da primeira linha deste parágrafo. Falta alinhamento de expectativa e quando se tem um negócio pequeno, com grande potencial e do outro lado tem uma big empresa com vários zeros de faturamento, infelizmente os interesses deles falam mais alto. Essa foi minha experiência, tenho várias pessoas aqui que trabalham com inovação e podem ter opinião diferente, compartilhem conosco! :)

#3 Não tente pegar investimento antes da hora!

Sempre pensamos grandes, na verdade no começo a gente pensava até fora da realidade, melhoramos ao longo da caminhada rs. Para vocês terem noção, em nosso primeiro demo day, eu cheguei a pedir 24 milhões de investimento, logo na primeira rodada e sem faturamento. Por incrível que pareça passamos para próxima fase! P.S.: O dinheiro nunca entrou na conta.

Mas o ponto que quero chegar é o seguinte, dinheiro de investidor é dívida e não entrada! E para financiar o nosso sonho procuramos os caras que tinham a grana e que poderia solucionar nossos problemas. Viajamos para SP e BH algumas vezes, participamos de vários processos de captação com fundos de venture capital, seeds, anjos, dinheiro do governo e toda grana que viesse (ou não, confesso) com o smart money envolvido. Conhecemos muita gente boa, outras nem tanto, mas de saldo final restou o aprendizado de que não era o momento de pegar grana externa.

Na minha concepção o momento certo de pegar investimento é quando a empresa precisa alavancar as vendas, e crescer em número de clientes. Mas para muitos modelos de negócios, existe etapas anteriores de validação de produto e mercado que demandam grana, que muitas vezes não dá para levar no bootstrap e aí vem a vontade de pegar investimento. Mas mesmo nesse cenário, para conversar com um investidor você precisa ter muito bem claro o seu modelo de negócios e ter a capacidade de responder quatro perguntas básicas: O que você vai fazer? Como você vai fazer? Para quem você vai fazer? Por que você vai fazer? E duas perguntas complexas: Quanto vamos ganhar? E quando?

Olhando para trás eu não tinha ainda bem claro a respostas dessas 6 perguntas, portanto não era hora de captar investimento. Mas o aprendizado e conhecimento adquirido nesse processo levo comigo todos os dias.

#4 Incubação, aceleração, mentorias tem o seu valor, mas não vão fazer o seu negócio se tornar um unicórnio.

Tenho o prazer de dizer que aprendi muita coisa foda nesses últimos 3 anos. Venho de uma formação extremamente técnica e eu necessitava de conhecer uma série de novos assuntos relacionados a: marketing, vendas, financeiro, estratégia ...e aplicar em um curto período de tempo. Assim como o Pedro Waengertner, CEO da ACE fala, montar uma startup é um MBA completo, e é verdade.  

E grande parte desse conhecimento eu adquiri nos diversos processos de incubação e aceleração que nossa empresa participou. Tivemos grandes oportunidades e conhecemos muita gente boa, e tenho grande consideração pelo tempo que dedicaram a nós.

Um dos pontos que vejo que muitos empreendedores pecam, e com a gente não foi diferente, é apostar muito que estes processos externos vão fazer você montar um negócio de sucesso. Normalmente esses ambientes possuem um grupo de pessoas que compartilham o seu conhecimento, vivências e o caminho das pedras que enfrentaram, com os empreendedores. Mas, cabe a nós fazer acontecer e sem se enganar! Várias foram as vezes que corríamos para terminar as entregas de atividades para os mentores, mas sabíamos que a qualidade não era o ideal, mas tínhamos que cumprir o acertado.

A diferença é que não era uma escola, em que o mediano passa de ano e 60 é 100, era a formação de uma empresa em que todo o tempo dedicado deve ser otimizado para gerar resultados de crescimento. Então, não se engane uma aceleradora / incubadora irá te dar alguns direcionamentos, mas o caminho quem delimita é o empreendedor e ninguém mais do que você deve lutar para o sucesso de SUA empresa.

#5 Você pode ganhar dinheiro de várias formas, empreendendo é o caminho mais longo!

Quando se tem uma empresa, em que você assume riscos e contas para pagar, dinheiro no fim do mês é luxo. Nunca tivemos isso ☹. Vejo muita gente com a intenção de empreender, visando ter uma forma rápida de ganhar dinheiro. Raramente isso acontece. Temos o famoso vale da morte e superar ele é um caminho duro e várias empresas não conseguem.

Então o seu primeiro desafio é se manter vivo nos estágios iniciais, entenda que se manter vivo é diferente de ganhar dinheiro, até então você está sobrevivendo. Quando a startup começar a performar melhor, ai sim você pode pensar em tirar uma graninha a mais, mas esse caminho são para alguns poucos. O ideal seria até, pegar o excedente e reinvestir em crescimento da empresa e lá na frente ter um cash out.

Se seu objetivo é apenas ganhar dinheiro e por isso está montando sua startup, eu sugiro que repense. Você pode tentar um emprego legal e ir subindo ele, você pode tirar algumas reservas e investir, você pode estudar e entrar em um concurso e ter lá seu salário garantido. Empreenda com um objetivo maior do que dinheiro, tenha um propósito, essa é minha dica.

Mas e ai Raphael, você matou seu negócio e agora...?

Segue o jogo! A vida é feita de escolhas e eu e meus sócios decidimos não tocar mais o negócio, e pode parecer loucura, mas está sendo um alívio. Pivotamos o negócio três vezes, investimos nosso dinheiro, investimos dinheiro de terceiros e a coisa não tava andando. Começamos a perder o “tesão” que tínhamos antes e estávamos céticos quanto a viabilidade de se ter sucesso, neste momento e muito ligado a questões culturais, burocráticas e regulamentares que desde o início travavam nosso negócio. A entomofagia é sim uma realidade, em muitos países, no Brasil ainda não e posso afirmar isso com propriedade!

Sigo minha vida agora com um desafio um pouco diferente, de ser intraempreendedor, quero fazer a diferença e ajudar no crescimento de uma empresa que não é minha. Sou insade sales rep, na Ipe digital, e estou aprendendo e desenvolvendo habilidades com uma equipe foda e em um ambiente de trabalho mais foda ainda. Hoje eu ajudo outras pessoas a melhorarem a gestão do seu negócio, para que elas não tenham que também fechar suas empresas, e isso me motiva todos os dias.

Quanto a empreender novamente... com certeza! Eu tenho um caderno que eu carinhosamente apelidei de: Em busca do unicórnio perdido! Nele estão várias ideias que tive ao longo desses últimos anos, e a proposta é pegar mais bagagem para em um futuro abrir meu próximo negócio.

Segue o jogo!
Victor Eduardo (Dudu)

Inovação Aberta | Community Manager | Inovação Corporativa | Ecossistemas de Inovação | Mentor de Startups

5y

Raphael, fico feliz e triste ao mesmo tempo, feliz por ver um texto com tanta informação interessante, fidedigna e que demonstra certa maturidade e coragem nas palavras, uma vez que empreender vai muito além de ter um negócio, triste eu fico pois era um negócio que eu via como muito promissor mas é uma # que eu acrescentaria é o fato de "Só sabe a realidade da empresa quem está na empresa", muita gente acha que esta sempre indo de vento em poupa e na maioria das vezes isso não acontece, e se acontece não é por sorte ou luxo, e sim hard work e suor, a questão é que saber a hora de parar com um Negócio também é empreender, você tem de saber os riscos que pode ou não correr, o que não pode é parar de empreender seja na empresa que você está agora, seja em um novo projeto, seja na vida pessoal, NEVER F*CK DON'T STOP!

Rita de Cássia Ferreira Meirelles

Corporate Innovation | Open Innovation | Innovation Culture | New Business

5y

Que texto bacana Raphael! Parabéns por estar sempre se desafiando e buscando novas soluções, encaminhei seu texto para várias startups que acompanho, que conselhos valiosos você listou! Já ouvi tantos casos de empreendedores que buscam investimentos e não conhecem o outro lado das obrigações. Apesar de me entristecer por saber o destino da empresa, fico tão feliz de ver o amadurecimento de vocês como profissionais! O intraempreendedorismo também é uma forma de inovar e vocês fazem a diferença! Nesse mundo de startups uma frase que me marcou muito foi "mais ação e menos palco", e vocês tiveram a coragem de agir e ir atras do sonho de vocês! Tenho certeza que em qualquer lugar que estiverem, esses aprendizados serão válidos! Desejo muito sucesso no caminho de vocês e pode contar comigo sempre na busca e desenvolvimento de novos negócios... 

Maurício M. de Medeiros

Product Owner | Growth Product Manager | Growth Hacking | Digital Channel | B2B | TIC | Innovation

5y

Justo, Raphael! Temos certeza que fizemos o que tinha que ser feito com as condições que tínhamos, e hoje encaramos tudo isso como uma lição de vida. Sucesso, irmão!

Boa Raphael! Tem uma frase que gosto muito: “O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder entusiasmo.” - Winston Churchill. Bom ter você em nosso time e ver seus resultados. Confirma que você ainda vai achar seu unicórnio.

Letícia Rezende

Accelerating Product Evolution | Founder at Codly | Antler | Reforge | No Code | Low Code

5y

Muito bacana Raphael! Lições aprendidas em busca de um sonho que simplesmente não estava no momento de ser concretizado. Muito sucesso ainda está por vir, tenho certeza.

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